segunda-feira, 26 de abril de 2010

As principais esferas são de velocidade, habilidade, espírito, força, , e o resto estava riscado/arranhado/apagado na parede da mina, e Miguelti, ainda a tossir, acabado de levantar, tocou com a mão na parede que vibrou (as pedras? Um céu a afastar-se – pensava, a olhar em frente, para a escuridão do corredor que descia, com pontos de luz negra,, estrelas,, a afastarem-se, e)
Miguelti –, onomatopeias descontroladas de tosse. A mão à frente da boca em punho, enquanto que a outra, ainda agarrada à parede, são de velocidade, habilidade, espírito, deslizando pelas palavras, escritas no que parecia ser um magenta deslavado –
Olhou em frente, ainda a tossir, em esforço, com notas de medo a ameaçarem começar nos pés. À sua frente o corredor inclinava-se em direcção ao centro da terra – parecia descer ainda mais, antes da derrocada, ou agora que estava sozinho – ouvia ecos falsos de ruídos melódicos, gemidos – queria-lhe parecer, de lá de baixo, da escuridão – ,ou por já não ter a sua lanterna de querosene, partida no deslizamento de pedras do tecto – e agora o medo começava já a ameaçá-lo, já tinha dominado os pés e lhe subia pelas pernas, depressa lhe chegaria ao estômago,
Para trás; as pedras estavam imóveis, aparte as pequenas cascatas de terra que caíam entre elas. Inconscientemente, levou a mão ao cabelo para sacudir alguma dessa mesma terra que imaginava ter por toda a parte, lúcido e castanho. Com o outro braço ensaiou uma tentativa inútil à partida de tentar mover as pedras, de as tirar dali, salvar o imbecil do amigo e cair nas boas graças do professor, trepando pelo cascalho acidentado – ou por um buraco – ou então, impossível. Soube mal lhes tocou. Nem tentou fazer um esforço.
- Professor? Vivelti!
Depois de tossir. Logo medo e desolação. A aventura tinha-se transformado numa aventura. Numa aventura verdadeira, e ele tão novo. Novo demais para morrer, e novo demais para sentir o terror da possibilidade da morte tão presente. Olhou em volta, as principais esferas, e tocou de novo com a mão na frase, escrita a letra corrida – The three main spheres are, pois estamos no Colorado, Isto é vermelho?, pensou, (mas) parecia tinha-se degradado para um rosa apagado, ou rosa tinha sempre sido, e ao olhar em frente, súbito o corredor parecia-lhe mais estreito, quase vertical, com a iluminação de cada lado das paredes da mina a ser apagada mais cedo pela escuridão. A claridade era entre o amarelo e o castanho. Vermelha. Laranja.
- Bom, mais vale... andar, aqui não fico a fazer nada... – disse alto.
, e os gemidos )falsos( pararam. A frase na parede ficou para trás. Com cada passo, ainda no início, o corredor soterrado ficou também para trás, e tudo o que Miguelti via, ao descer, era paredes. Paredes arranhadas.
- Que lugar é este? – O que é que o professor andava à procura, (ou mesmo) à procura?, pensou.
A mina possuía um corredor grave, inquieto que descia, para baixo, para baixo, ladeado de luzes eléctricas, o que já é comum nesta altura temporal.
- E parece estar, como dizer: – algo viva, lá em baixo
Sim, como fez notar Miguelti, a mina parecia pulsar, depois de se entrar na sua boca escura – quase como se chegar ao fim do horizonte – portanto, onde estaria viva, e será que Miguelti –?
Passaram-se horas. Curtos e incontáveis minutos. Dias de caminhada e alguns longos desesperos, com as mãos pelas paredes – arranhadas, parecia agora de certeza, a Miguelti – e tropeções e pancadas dolorosas em pedras espalhadas pelo chão com os pés, em idade mental. O tempo curva-se. Fecha-se sobre si mesmo e rebola por entre as pedras do jovem espeleólogo. Por vezes sobe mais quente e acerta-lhe côncavo no peito, ao acelerar, outras vezes atira-se, ou cola-se, ou por uma osmose fria absorve-se às e nas paredes e puxa-o para trás ou rigidifica o fluir do ar, tornando-se mais lento como se tivesse sido sempre mais lento, o mais lento possível, existindo sempre e nunca parando, indo até ao fim do fundo da mina num eco, ao mesmo tempo que retorna, ou permanecendo à volta de Miguelti numa mutação constante e estóica. O corredor inclinava-se, inclinava-se cada vez mais, o que faz com que nos primeiros dias Miguelti se tentasse equilibrar chegando as costas para trás, flectindo as pernas para não cair, e depois nas horas seguintes continuasse a aumentar, vertical quase ensaio de abismo, mas cada vez mais subtil, cada vez mais imperceptível, (mas) e sempre inexorável, mas de teor praticamente insignificante, de verticalidade cada vez mais indivisível, mas interminável, obrigava-se a Miguelti nunca parar, na descida a convidá-lo/obrigá-lo a sempre descer, cada vez mais rápido mas não tão rápido, e depois ainda cada vez mais inclinado mas quase ao ritmo da passada, até que minutos ou dias depois, ou semanas ou dezenas de horas, febres de escuridão, vermelho e penumbra pela parte toda da visão, Miguelti estava já a cair, a cair num abismo, e a cair nele à velocidade de um passo, passos apressados febris, rodando e rolando sobre si mesmo enquanto caminhava pelo chão equilibrando-se, em plena queda livre, e as mãos a passarem e a tentarem segurar-se nas paredes, cada vez mais arranhadas, com padrões em onda e (em) diferentes hexagramas, cruzando-se, bidimensionalmente, parecia a Miguelti, entre as paredes, uma parede e a outra, e caía, caía a andar, caía sem se aperceber à velocidade a que caminhava, andava com as pernas trôpegas tropeçando nas pedras que essas sim, quando despegadas do chão caíam, caíam à velocidade irreal não proporcionada (pela mina), passavam pelos pés de Miguelti cortavam o ar, em direcção às trevas, e Miguelti continuava a andar, e a andar continuava caíndo, caíndo cada vez mais numa velocidade vagabunda e desrespeitadora dos conceitos de gravidade, entendidas como tal, e as trevas aumentavam pelas paredes da mina, abriam as suas bocas múltiplas que era na verdade uma só, uma escuridão, uma boca no fundo do escuro a puxar Miguelti para si, perto do seu horizonte de eventos, e Miguelti, quanto mais caía e andava, mais andava, mais se equilibrava e continuava a andar, e caía supersonicamente á velocidade inversamente proporcional a que andava enquanto a boca das trevas se abriu num engolir súbito de escuridão, e então aí Miguelti esqueceu a luz, com os olhos abertos, delirou com a inexistência de fim, no começo da sua travessia , e a boca da mina engoliu-o, o poço calou-se de luz, os gemidos susteram-se olhando com o seu suster em expectativa, e o abismo vertical, poço sem fundo, buraco de preto,,preto absoluto, engoliu Miguelti e ainda existindo sobre si espalhou a sua escuridão por toda a parte e ainda existindo fechou-se.



Parte 5

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